segunda-feira, 4 de abril de 2016

Cordel do aprendiz

CORDEL DO APRENDIZ

Na roça, uma família dominada pelo pai que não quer saber de Deus, igreja...
Esposa e filhas tentam, várias vezes, levar o pai a aproximar-se de Senhor...
A força da oração e da fé, abrem as portas do coração do pai


Cenário

Sala de uma casa típica de interior
Personagens
Maria
João
Maria Cremilda
Crianças (quantas ditar propícia)
NARRADOR: (canta em forma de cordel) Hoje venho pra contar a história do João que é bravo pra daná e não aceita nada não. Sr. João é da fazenda e não tem estudo não, não sabe lê nem escrevê e não “conhece” religião.
(No centro do palco se encontra João e Maria sentados em cadeiras.)
JOÃO: Meu nome Jão, essa é minha muié Maria, nóis tem duas fiá (entram várias crianças) duas dúzia.
BLACKOUT
(Entra Sr. João)
JOÃO: Oh muié, ara... Que fome! Oh muié, meu bucho tá vazio, daqui a pouco ele arria por baxo.
(Entra Maria)
MARIA: Carma Jãozinho, aqui óia. Arroiz com cardo de arroiz. Delícia... (lambendo os beiços)
(Enquanto João come Maria rodeia a mesa inquieta.)
JOÃO: Ara muié, que tá arrodiando a mesa ingual urubu? Se ocê tá cum fome vai pega pru’cê.
MARIA: Num é nada disso homi... É que... A Dona Cremilda chamo eu pra i na ingreja hoje e ...
JOÃO: Já vem ocê cum essa história de novo... Já falei pru’cê muié que num vai em lugá ninhum. Ocê tá me achando com cara de mula é?
MARIA: Ara Jãozinho, que mula nada... Ocê é um toro, forte e valente.
JOÃO: Nem vem adula muié, ocê que faze u que nessa tar di ingreja hein? Já vi as muié ingual potranca dançando e cantando lá... Tu tá querendo apronta né muié?
MARIA: Ara Jãozinho, pára homi. Se sabe que num é assim...
JOÃO: Sei de nada não.
MARIA: Mas é claro, num vai a ingreja...
JOÃO: Tenho mais o que faze muié...
MARIA: Jãozinho... Eu levo as crianças... E ocê fica descansando...
JOÃO: Já disse que não muié, ocê num vai ensina essas coisas pras minha moça. Num quero vê minha muié e minhas moça na rua.
MARIA: Mas Jãozinho eu num vô tá na rua... Vô tá na ingreja.
JOÃO: Pió ainda.
MARIA: Óia aqui Sr. João, eu num saí da cidade pra...
JOÃO: Ara muié, óia como fala...
(Maria abaixa a cabeça)
JOÃO: Até perdi a fome.
(Maria pega o prato e quando vai saindo vê sua filha escondida)
MARIA: Escutando conversa outra vez né?
MARIA CREMILDA: O pai é muito chato...
MARIA: Óia o respeito menina...
MARIA CREMILDA: Eu respeito mãe, mas...
MARIA: Já tá tarde Maria Cremilda, vá drumi...
(Quando a mãe vira as costas Maria Cremilda)
MARIA CREMILDA: Hoje eu fui na igreja...
MARIA: Ara menina... Desobedecendo seu pai?
MARIA CREMILDA: Eu tava indo estuda e ouvi eles cantarem e dizerem bem alto: Deus é lindo... Quem é Deus mãe? Ele mora aqui perto?
MARIA: Ele mora mais perto do que ocê imagina...
MARIA CREMILDA: E a senhora nunca me apresentou ele?
(João entra aos gritos)
JOÃO: Ara, Ara... O que ocês duas taum fazendu? Taum de trelele á essa hora? Vaum pru quarto agora.
(João puxa Maria Cremilda)
JOÃO: To cansado de ensinar moça minha a ser prendada, moça minha não fica pelos cantos carcarejando...
MARIA CREMILDA: O Sr. não quer aceitar a realidade pai...
JOÃO: Ara menina e oque ocê sabe de realidade? Ocê não entende nada... Nem da sua própria vida.
MARIA CREMILDA: Eu entenderia muito mais se ocê me deixasse í na ingreja pai.
JOÃO: Se ocê não pará de falação vô te cafofa menina... Sua mãe já enchendo sua cabeça de caraminhola.
MARIA CREMILDA: Eu vejo a ingreja cheia de gente pulando, dançando... Eles sim são felizes.
JOÃO: Eles são assanhados isso sim.
MARIA CREMILDA: Não são não pai.(começa a chorar)
JOÃO: Já disse pru ce não retruca menina... E pára de choro, já é hora de moça minha tá na cama.
(Saem cada um para um lado...)
(Luz baixa...)
(Luz alta...)
(Carcarejo de galo)
MARIA CREMILDA: Vamos meninas, vamos atrasar.
JOÃO: Leva suas fia Maria.
(João sai por um lado Maria e as crianças por outro.)
(Na estrada...)
MARIA CREMILDA: Mãe, vamos passar pertinho da ingreja. Vamos dar uma entradinha?
MARIA: Não menina, seu pai num ia gostá...
MARIA CREMILDA: Mas ele num ia nem saber... Vamo mãe.
(Maria Cremilda puxa a mãe pra dentro da igreja e as irmã correm atrás)
UMA DAS IRMÃS: Cadê o homi pelado que ocê viu?
MARIA: Ara menina, óia o respeito dentro da ingreja.
MARIA CREMILDA: Num sei. Psiuuu!
(Menos de um minuto depois Maria puxa as filhas)
MARIA: Vamu, já tá tarde.
MARIA CREMILDA: Mas mãe nem terminei.
(Maria sai puxando as filhas)
(Maria em casa varrendo e escutando música sertaneja num radinho á pilha. Olha para os dois lados e muda a rádio sintonizada. Ao ouvir uma música agitada de igreja começa a dançar. No auge de sua empolgação João entra furioso e desliga o som.)
JOÃO: Ocê tá ficando atrevida igual muié de ingreja.
MARIA: Eu só tava...
JOÃO: Dançando... Eu ví.
MARIA: Mas era pra Deus...
JOÃO: Ocê lá conhece Deus... Cê nem sabe se ele é bão ou não...
MARIA: Sei sim Jão, e ocê também sabe...Sabe que ele morreu na cruz por nós.
JOÃO: Por acaso ele ia ser mula de morrer por nós? Isso é tudo mentira.
MARIA: Pára Jão, você sabe que num é assim. Ocê sabe tudinho da vida dele.
JOÃO: Sei mas não queria nem saber. E ocê num vai ficá ensinando essas coisas pra minhas moça.
MARIA: E por quê não João?
JOÃO: Ara muié, não quero que elas sofram...
MARIA: Pára de bobeira homi... Deus não faz ninguém sofrer, muito pelo contrário.
JOÃO: E por que ele me fez entaum? Levo meus pais e me deixo na miséria...
MARIA: Ocê só não sabe a resposta por que nunca perguntou pra ele.
JOÃO: Não quero mais papo com esse tar de Deus.
MARIA: Não adianta cê fugi Jão, se ocê não encontra cum ele aki ocê vai encontra lá no cer.
(João abaixa a cabeça)
MARIA: Ocê é um homi bão de coração. Por isso nunca desisti de ocê. É esse tar de Deus que ocê diz é que num deixô eu te largá. Se ocê dé uma chance pra Deus faço uma canjiquinha pru`cÊ. Que tar?
JOÃO: Ara muié...(bravo)
MARIA: Ara Jãozinho.(carinhosa e o acariciando)
(João anda para um lado e para o outro enquanto Maria o olha com carinho.)
(João pára no centro do palco.)
JOÃO: Tá bom muié, mas ocê que num faiz minha canjica pra vê...
MARIA: Craro que faço Jão.
NARRADOR: (canto em forma de cordel)Sr João foi vencido pela oração de Maria, seu coração amolecido e sua fé fortalecida.
MARIA: (canto cordel) A paciência é o Dom divino que Jesus me cedeu e hoje tenho o marido que a mim prometeu.
CRIANÇAS: (canto cordel) O coração do meu papai Jesus converteu e o que era impossível hoje mesmo aconteceu.
Silêncio, todos olham para João.
JOÃO: Ara, ocês já querem demais.
 FIM


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